Antes que você perceba, sua mama está cheia de leite, aquele leite que escorre e mancha a blusa, aquele leite que pinga ao olhar para o bebê, aquele leite que nesse momento, faz o peito doer.
Uma dor sem tamanho, que por várias vezes você não sabe bem o que fazer para aliviar.
A mama vai enrijecendo, o leite fica difícil de sair, ninguém te ensinou ordenhar para aliviar, você não sabe se é na água quente ou fria que vai aliviar.
A peito também enrijeceu, pois no meio de tanto leite, não tem bebê para mamar. Aquele leite pinga, molha a blusa, você consegue aliviar um pouquinho no copo e vê ele escorrer pelo ralo da pia.
Escorre junto a lágrima, o aperto no peito daquele desejo sucumbido de alimentar seu filho.
Não se fala sobre amamentação das mães que passam por perdas e nem daquelas que tem seus filhos na UTI. Como se não falar, diminuísse a dor, o desconforto e aliviasse as mamas.
Você não sabe se pode ordenhar, se vai ou não piorar a situação que suas mamas se encontram, se isso vai trazer mais aperto para seu coração.
Simplesmente, se depara com o peito cheio de leite e os braços vazios. Naquela solidão que o puerpério carrega, mas agora, com o maior desafio que sua vida já lhe apresentou.
O leite vai descer, é inevitável, com ou sem bebê para mamar, o leite vai descer. A mama vai ficar cheia, vai pingar e manchar as blusas.
Resta saber o que fazer com ele, o que fazer com você, o que fazer para aliviar.
No primeiro momento, quando vi Eva na UTI, eu escolhi enfaixar a mama e tomar um remédio para secar o leite. Minha vontade era diminuir minha dor. Como se ignorasse o fato de ter a mama cheia e os braços vazios, pudesse ser apagada assim, com um simples enfeixamento.
Olho para trás e agradeço por essa vontade ter sido substituída pelo desejo de amamentar Eva como eu podia, ordenhando, passando gotinhas em seus lábios e oferecendo 2ml na sondinha.
Amamentei ela enquanto ela pode receber meu leite e também doei todo o restante para o banco de leite.
Amamentei Eva e tantos outros bebês, para mim, Cecília, fez muito sentido, me fez bem, não diminuía a dor, mas alivia a mama e preenchia o coração.
Quando Eva partiu e retornei para minha cidade, dei seguimento aquele desejo dos primeiros dias, mama enfaixada e medicamento para secar o leite o mais rápido possível.
Consegui em um lapso repentino, guardar um frasquinho de leite no congelador, que virou uma linda pulseira com o cabelinho dela e do Gab, em formato de coração.
São vários os desafios que mães de colo vazio encontram, sem dúvidas, a amamentação é um deles.
Peito cheio de leite, braços vazios e coração cheio de amor.
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